A importância (e a beleza) da neurologia
Conhecimento é poder
Grande parte das pessoas mais espiritualistas, que possuem uma visão – segundo elas – mais abrangente do universo, adoram proclamar que não somos só um corpo, mas sim uma alma que usa um corpo. Independente de acreditar ou não que possuímos algum componente essencial em nós que é extra-físico (coisa que esse que vos escreve acredita), tenho convicção em afirmar que acaba ocorrendo um exagero em achar que tudo vem daí, como se o cérebro fosse um mero radio que apenas recebe informação de fora – a metáfora mais amada pelo povo new age.
Apesar de não concordar com grande parte dos neurologistas, que acham que absolutamente tudo é explicável fisicamente, neurologicamente (nenhum explica satisfatoriamente essa voz da consciência na qual pensamos), o espiritualista tende a ir para o extremo oposto, achando que tudo vem de fora e o cérebro é só um mero copo, um receptáculo do invisível e insubstancial. Não é bem assim…
Muitos parecem acreditar que somos um fantasminha verde que entra no corpo e que contém tudo o que somos, todas nossas emoções, memórias, características, habilidades, caráter e manias. Basta “pensar positivo” e o corpo reagirá perfeitamente bem, pois somos nós que estamos no controle.
Imaginem se a neurologia não existisse e tudo fosse explicado por “é a alma dele que é assim”. Dizer que está na alma não explica nada, apenas é uma desistência de explicar.
O mundo material não é um mero efeito cuja causa veio de outro plano… Ele participa ativamente como causa das coisas também. Não é isso ou aquilo, são os dois… A matéria e o espírito que se chocam, interagem e transformam um ao outro. Imaginem um encontro de águas, ou um projetor de imagens voltado um para o outro com os mesmos poderes.
Temos esse mecanismo formado por 80 bilhões de neurônios que é plural, polifônico, recebe, mas também dá ordens… Milhares de patterns são formados a nossa revelia. É dentro desse choque entre nossa consciência e a fisicalidade automática do cérebro que tentamos viver.
A neurologia mostra hoje em dia que não pode ser só uma alma de fora que age sobre o corpo. O corpo gera coisas, não é mais possível acreditar que seja só um receptor, por mais que seu mestre new age queira. Se você tem uma Ferrari você chega a 100 kms/h em 5 segundos. Já com um fusca não dá, por mais que você ache que dá…
O maior erro dos espiritualistas
O mundo material não é um mero efeito cuja causa veio de outro plano… Ele participa ativamente como causa das coisas também. Não é isso ou aquilo, são os dois… A matéria e o espírito que se chocam, interagem e transformam um ao outro. Imaginem um encontro de águas, ou um projetor de imagens voltado um para o outro com os mesmos poderes.
O
caso de Phineas P. Gage (1823 – 1860) foi um marco do tipo “antes e depois” para a ciência neurológica. Esse homem que trabalhava numa ferrovia teve seu cérebro perfurado por uma barra de aço, destruindo grande parte de se lóbulo frontal. A parte que nos interessa é que após o acidente a personalidade de Phineas mudou completamente. Não é que ele tenha ficado leso ou com alguma deficiência, mas seu caráter mudou. Os amigos não mais o reconheciam. Passou a beber, a jogar, a ser sexualmente promíscuo, incontrolável e inoportuno. A partir daí a ciência percebeu que certas partes específicas do cérebro correspondem a certas características da pessoa e que modificando essa parte se modifica essa característica. Como o espiritualista radical explicaria esse caso? Depois do acidente a alma saiu e entrou outra? Claro que não…
Phineas P. Gage
Já Derek Amato teve um benefício. Após sofrer uma concussão pulando numa piscina rasa demais, Derek virou um gênio musical. Ele que nunca havia tido uma aula sequer começou sem mais nem menos a tocar oito instrumentos com grande habilidade.
Anthony Cicoria, após ser atingido por um raio num orelhão desenvolveu um insaciável desejo de ouvir música para piano. Começou a aprender e nunca mais parou, ele que antes do acidente nem se interessava por música…
As histórias são infinitas…
Há cem anos, quando as pessoas presenciavam um ataque epilético severo, coisa horripilante de se ver, imediatamente já assumiam que era uma possessão demoníaca e chamavam um exorcista. Hoje sabemos que dando o remédio correto, o ataque para. Ou o demônio odeia o gosto do remédio e sai da pessoa cheio de nojo, ou descobrimos que aquele ataque é uma coisa química do cérebro. A tempestade elétrica cerebral é controlada pela química do remédio.
Um terço das pessoas que sofrem de enxaqueca, vêm uma aura, um distúrbio transitório visual, sensorial, motor ou na linguagem, que antecede a ocorrência de uma enxaqueca o que também poderia facilmente ser confundido com fenômenos sobrenaturais para quem desconhece o que são… Antigamente eram confundidos com visões espirituais.
Estava eu numa palestra do médium Luís Antônio Gasparetto, quando ele afirmou que quando a pessoa perde um braço e ainda sente sua presença, sentindo até cócegas, é por causa do perespírito do braço que ainda está ali. Ora, Gasparetto não sabia que todas as partes de nosso corpo possuem sua região correspondente no cérebro. Se o cirurgião mexe no neurônio que é ligado a seu dedão do pé, você sentirá coceira lá. Quando a pessoa tem um membro decepado, a região cerebral dele continua lá e por isso a pessoa sente que ainda está presente. Como a coceira que só existe no cérebro não pode ser coçada, muitos pacientes tinham uma aflição desesperadora. O genial neurologista indiano radicado em San Diego Vilayanur S. Ramachandran inventou um método por meio de espelhos para fazer uma amputação desse membro fantasma, que já não existia e assim fazendo com que o cérebro apagasse a área ligada a ele. O “peresrpírito” some… Ramachandran aprendeu um método de apagar o extra-físico? Não, a presença do membro era explicável aqui mesmo, na matéria, e por isso foi possível ajudar essas pessoas que sentiam coceiras, dores crônicas terríveis e mau jeito nos membros inexistentes. Percebe-se aí como conclusões apressadas de quem não entende da parte neurológica do cérebro podem prejudicar as pessoas. Continuar sentindo um membro decepado não é prova da existência do espírito.
Não saber que nosso corpo está todo mapeado no cérebro faz com que teorias erradas surjam, como essa do perespírito.
Falo tudo isso por ser um cético que não acredita em nada extra-físico? Não é o caso. Faço porque quero REALMENTE saber como as coisas funcionam e jamais me enganar. Investigar até o fundo as coisas e só depois dar algum tipo de parecer, não leviano e simplório.
Sempre parece ser mais interessante a origem do problema ser fantástica, sobrenatural. Mas quero evidenciar aqui que o natural também é fantástico e que aprendendo os mecanismos da matéria não excluímos a parte extra-física. Não negligenciando nenhum desse lados que parecem opostos, poderemos entender mais sobre o todo e resvalar na verdade.
O mundo sólido importa. Fiquem conosco nessa jornada de conciliar os dois mundos e não pulem os textos neurológicos. Espero ter conseguido passar a vocês a importância de conciliar nossos estudos extra-físicos aos físicos. A neurologia é um assunto essencial, além de ser infinitamente instigante. Por isso ela faz parte indissociável da parte mais etérica desse site.
Mantenham-se perspicazes e cheios de fé.
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