Autoridade

Por que damos poder aos outros?

Nessa jornada de tentar limpar de nossa mente tudo o que é um impedimento para o livre raciocínio e não tomar condicionamento por sabedoria, falarei agora sobre autoridade.

Aposto que a maioria dos que me lêem devem ter pensado: quem é ele pra falar essas coisas? Com que autoridade ele vai se meter nesses assuntos e falar de gente tão “grande”? Pois bem, a palavra autoridade quer dizer apenas quem escreveu, quem disse: o autor. Sou eu mesmo, prazer, o autor desses textos e não vou desfilar uma lista de cursos, diplomas ou a aprovação divina para que minhas palavras ganhem mais peso ou se tornem legítimas. Não, quero que bastem por si só, um elegante e coerente desenvolvimento de um tema que pode ou não convencer meu leitor sem nenhuma ajuda de fora. Vamos entender porque essa praga de “autoridade” tem tanto poder sobre a mente humana.

 Estava eu treinando arpeggios básicos em minha guitarra na faculdade em Los Angeles quando um amigo entrou na sala e perguntou: -o que você está tocando?, dei uma de esperto e respondi: -“É Bach!”, no que o pobre exclamou impressionadíssimo: “Só podia ser coisa de gênio mesmo, ouvi de longe”. Nunca revelei a ele o ridículo da cena, mas até hoje me lembro. Ele era e é um excelente músico, mas não confiava só nos ouvidos treinados, mas em nomes. O valor agregado…

Dou risada em redes sociais como o Facebook, quando quase todas aquelas frases “sábias” que as pessoas amam escrever são atribuídas a Einstein, coitado. É como se a frase não bastasse por si só, e aí vem embaixo, pomposo: “Albert Einstein”, querendo dizer, tá vendo, foi um gênio quem disse isso! … Agora sim, a frase vale. Quase nenhuma dessas frases veio dele, mas as pessoas precisam de um nome de peso…

Essa é dele mesmo:

Vocês imaginem então no campo espiritual quanta lambança é feita com essa coisa do “quem disse”. As pessoas ouvem as frases mais óbvias e clichés, mas só porque alguém diz ter canalizado aquilo do grande Saint Germain, ou sei lá quem, a pessoa diz: Nossa, que lindo e sábio isso!. O mestre vem lá das oitavas de luz para despejar sua sabedoria sobre nós e diz: “Nada é mais importante do que o amor”…e as pessoas ficam todas arrepiadas com a profundidade e beleza da frase.

Como competir se quem disse aquilo foi o “Único filho de Deus”, ou o livro é do próprio “Deus Único” ou de um iluminado que é o único que ouve Deus? O que toda essa gente quer dizer é: o que eu falo é certo, ouçam e não ousem raciocinar. Minha opinião é a que conta, a sua vem da onde? Da sua cabeça? Que absurdo!

 Já pensaram na genialidade que é a palavra “blasfemo”? É a autoridade te impedindo com ameaça implícita de pensar por si só. Um instrumento de poder brilhante.

Estava eu num desses cursos da Fraternidade Branca, quando me passaram a letra de um hino composto pelo grande El Morya, um mestre ancestral da humanidade. Eu como músico comecei a ter pensamentos blasfemos enquanto ouvia aquilo, dizendo para mim: “Poxa, o cara é um mestre iluminado, podia ter composto algo melhor não? Que melodia mal feita! Mas logo me repreendi imaginando que tinha alguma pureza ali, na coisa simples mesmo. Neguei a minha autoridade interna em prol de um nome, de alguém que disse que aquilo vinha de um mestre. Fazemos isso muito mais do que tomamos consciência.

Por que diabos acreditamos que alguém é iluminado? O que quer dizer isso? Esses gurus dão até data e hora de quando se iluminaram. Com isso pretendem dizer: a partir desse dia, tudo o que eu falo é o certo, eu não erro mais.

Outra coisa que impressiona muito as pessoas é o fato de algo ser muito antigo. Os babilônios, os egípcios etc. O livro tem 400 mil anos…deve ser bom. A linguagem é esquisitíssima, não se sabe se é alegoria ou literal, a tradução pode ou não ser a correta, e a partir daí vamos ter o sábio que saberá interpretar cada palavra. Credo!!! Se eu quiser iniciar uma nova religião não vai valer porque tem que vir de um época inverificável e remota para que não possamos ver falhas. O profeta que não podemos ver ou ouvir será muito mais infalível.

Ficamos impressionados só porque algo está impresso num livro, porque falaram na novela, porque muita gente diz, porque o cara fez um curso no Himalaya, porque ele colocou Sacerdote na frente do nome, porque ele usa uma farda ou um manto laranja… negamos a nossa própria autoridade com uma facilidade absurda.

Por isso William Blake elogiava os demônios porque eles não acatam nada, pensam por si só, não são como anjos que apenas seguem ordens. Atenção cristãos, tudo isso é simbólico…

Por que diabos acreditamos que alguém é iluminado? O que quer dizer isso? Esses gurus dão até data e hora de quando se iluminaram. Com isso pretendem dizer: a partir desse dia, tudo o que eu falo é o certo, eu não erro mais. Vem de Deus... Será?

Meu objetivo não é demolir suas convicções religiosas ou filosóficas, mas apenas devolver a autoridade para você e ninguém mais. Use uma idéia externa porque você sente no peito que é coerente com você e seu ser e não porque o iluminado falou. Muita gente poderia ser genial e acaba se diminuindo tristemente pelo fato de não bancar seus próprios pensamentos.

Como a mente humana é impressionável e suscetível a essa coisa de autoridade! As pessoas que tem o dom da oratória e falam com convicção são reis em nossa sociedade, dominam multidões que não tomaram posse de suas mentes. Termino o texto com um novo entendimento sobre a frase: “Santo de Casa não faz Milagre”. Você é o santo dentro de você mesmo, que nunca confia em você. Ilumine-se hoje mesmo. Iluminação só pode ser tornar-se aquilo que se é;

Olhem que ridículo, Osho (iluminado auto-proclamado), e tido como um iluminado por milhões, falando mal do Jazz (final do vídeo)! Esses gurus dão opiniões pessoais e preconceituosas como se fossem “a sabedoria”. Duvidem de tudo…  Aquela comida que ele diz ser péssima, pode ser ruim só pra ele… aquela música que ele diz ser só barulho, é barulho pra ele…. aquilo que ele considera o “mal”, pode estar nos olhos dele…. Ouvi um dia um iluminado brasileiro (muitos assim o consideram) dizendo que a música da banda Van Halen é tão baixo nível espiritualmente falando,  que o mundo astral fede insuportavelmente para ele que pode perceber por ter mais sensibilidade que nós. Imaginem se Ed Van Halen, um dos maiores guitarristas de todos os tempos, um ser inspiradíssimo, fosse confiar num “mestre” idiota desses e negasse sua própria música, seu dom? E esse Osho negando a benção do Jazz? Todos aqueles gênios cheios de swing e sentimento não valem nada? Cada um cria seu mundinho esquisito, e tem gente que segue…

Colocarei mais vídeos mostrando o quanto essa gente abusa, tacando manias pessoais como sabedoria em cima dos outros…. Abençoada época em que vivemos, podendo cruzar tantas informações e percebendo o ridículo com mais clareza…”Jazz is not Music..” grande Osho…