Você olha para seu amigo comendo uma pizza e diz: cara, como você curte pizza! Que dom que você tem em gostar tanto dela, como é bonito ver esse teu desprendimento comendo uma pizza, essa abnegação por ela, queria muito ser assim! Que talento! Emociona ver alguém assim. Arrepia. Gostar de pizza assim só uma pessoa iluminada que já nasceu abençoada!
Que baboseira é essa? , você se pergunta. Qualquer idiota gosta de pizza, não existe mérito nenhum nisso. É uma delícia, é lógico que o cara vai gostar de comer, não é trouxa. O duro é parar de comer a pizza…
Pois bem, fiz essa pequena brincadeira para fazer um paralelo com aquilo que chamamos de humildade e quão mal entendemos do que se trata.
Um dos maiores elogios que fazemos é quando dizemos que alguém é humilde. Poxa, que cara humilde, não se acha mais que ninguém, não vai contra as ideias dos outros, deixa todo mundo ocupar seu espaço. Nunca fica se vangloriando. Não tem necessidade de se sobressair.
Aí sim, nesse caso, diríamos que cabe dizer os adjetivos que vínhamos esquizofrenicamente pondo no comedor de pizza. Como é admirável uma pessoa humilde, certo? Errado… Na verdade é tão ridículo quanto dizer que o comedor de pizza tem mérito.
Vamos tentar entender.
“Pô o comedor de pizza só tá saciando sua fome com uma coisa deliciosa. Ninguém vê mérito algum nisso. O humilde pelo contrário, faz isso porque quer ver os outros felizes”. Mentira. Se provasse da verdadeira humildade, a pessoa não ia querer outra coisa da vida. Não falo daquela falsa humildade, que é só mais um tipo de vaidade. Tem gente que quer mostrar o quanto é humilde para, de novo, conquistar os outros. Não. A verdadeira humildade gera uma sensação mental e física incomensuravelmente superior à da vaidade.
Humildade nos parece uma coisa enfadonha, um sacrifício de alguém que se põe abaixo dos outros. Mas na verdade, a humildade é a paz de saber que você está bem, não precisa conquistar o apreço alheio. Não existe o medo de que se alguém pensar mal de você ou não te ver como um vencedor, algo ruim vai acontecer. O humilde corta o poder dos outros, não faz diferença o que pensam ou deixam de pensar. E isso é muito mais saboroso do que qualquer capacidade que se tenha de conquistar a admiração dos outros. Poucos chegam a entender isso… Ser popular, amado pelo maior número de pessoas, parece ser o ápice da felicidade e no entanto é só estudar um pouco a vida dos ricos e famosos, ou conhecer um deles, para aprendermos que não é nada assim.
O ego é uma prisão terrível. Por maior que seja acariciado e bem tratado ele sempre quer mais. Seu estado perpétuo é de fome. Nosso engano, por toda a vida, é achar que agradá-lo é ser feliz. Isso nunca vai dar certo…
Você não vai acreditar, mas é muito mais gostoso, saboroso, ser um “zé ninguém”, que nunca avalia se é importante e poderoso, do que ser um Cristiano Ronaldo ou um Tom Cruise. Ah vá…
Claro: o “zé ninguém” que se vê como um “zé ninguém” e acha o Cristiano Ronaldo o objetivo a se conquistar, acha que ele é aquele que saboreia as melhores pizzas, vai ser sempre um infeliz, comendo a pizza da constante auto-avaliação e comparação. Isso é vaidade pura. Depressão quase sempre é um problema de vaidade, de orgulho ferido.
O humilde não tem orgulho. Jamais será ferido aquilo que não existe. E é aí que está a receita de seu néctar. O néctar dos deus, a ambrosia,
Vaidade é um saco, um tormento. Sempre preocupada, cheia de receios, sempre com planos e estratégias de sair-se bem perante os outros, cheia de táticas para que não descubram fraquezas, estrias nos glúteos. Vaidade estraga a vida toda.
E ainda dizemos que o humilde é um coitado. Coitado é o vaidoso que não tem descanso e sempre se auto-avalia, se compara aos outros e mede se é importante ou não.
O iogue é um esperto! Ele sabe onde está o gosto melhor. Isso que vocês comem e acham bom para ele é pizza de esterco.
Coitado do iogue. Só tem um pano cobrindo seu sexo e ri sabe-se lá do que! Só pode ser esquizofrenia.
Humildade é exatamente quando some o maior dos martírios humanos: a vontade de ser alguém importante aos olhos dos outros. É quando some a necessidade de criar uma identidade bem definida, cheia de coisinhas bonitas que você quer usar como broches cósmicos para que vejam o quanto você é bonita e brilha. Humildade é exterminar todo e qualquer limite, é perder as linhas e isso é o maior dos êxtases.
A coisa é capciosa… Passamos a vida toda alimentando um parasita. Chamamos de alegria quando conseguimos alimentá-lo com elogios dos outros e conquistas que conquistam o apreço dos outros.
Leave A Comment