Vivendo em outra realidade

Uma pequena alteração na estrutura neurológica de nosso cérebro pode gerar uma criatura com características absurdamente bizarras. Essa delicada máquina de menos de um quilo e meio, a coisa mais complexa já criada pelo universo, é capaz de criar uma realidade só sua. Brevemente vamos expor 10 “doenças” (sempre entre aspas porque aqui tudo é riqueza de experiência). Que mundo absurdo esse em que vivemos…

1-Simultagnosia – coisas vistas durante o dia, ou mesmo um dias antes, de repente se amontoam no campo de visão da pessoa como se estivessem ali de fato. Uma pessoa com esse distúrbio conta que de repente um e-mail que lera horas antes aparece sem mais nem menos na sua frente, e ela pode ler o que está escrito perfeitamente, e a cena real do momento a sua frente fica parcialmente ou totalmente tapada. Todos temos isso de uma certa forma. Aquilo que olhamos fica como um fantasma e vai sumindo. Esse é um caso extremo onde a coisa vista antes volta como se estivesse olhando.  Muitas vezes são dezenas de coisas que se amontoam juntas… Rostos de pessoas, objetos, paisagens…

2-Hypermnésia– você conhece bem amnésia, as famosas falhas de memória. Mas e hypermnésia? Que é exatamente o oposto? Uma super memória? Pode parecer bom, mas o indivíduo que a tem, quando lembra de uma coisa triste é capaz de lembrar com tamanha perfeição que não há diferença de se a coisa estivesse realmente acontecendo. A emoção e o realismo é o mesmo e, portanto, ele chora e se desespera tudo de novo. A coisa nunca fica uma lembrança remota, rarefeita. Poder esquecer é uma bênção… Ter memória demais pode ser uma maldição….

3-Síndrome de Capgras – no sistema límbico fica uma espécie de memória emocional. Em outra parte fica a memória de um rosto, por exemplo. O rosto de sua esposa possui uma identificação num centro e a emoção em outro. Pois bem, acontece que em algumas pessoas o que liga esses dois centros é cortado, seja lá por que motivo. Com isso, a pessoa jura que a própria esposa a sua frente não é sua esposa. Reconhece que é o mesmo corpo, o mesmo rosto, mas acha que uma alma de um alienígena ou espírito a possuiu. A pessoa é absolutamente normal em outros assuntos. Mas como a ligação sentimental foi cortada ela fica confuso e aparece sempre com essa história absurda de que ela não é ela…

4-Sinestesia– a pessoa tem o lugar que reconhece sons no cérebro misturada com a que vê cores. Ouvir uma melodia é simultaneamente ver uma cachoeira de cores. O maestro Olivier Messiaen pedia para a os músicos tocarem um pouco mais púrpura ou rosa.

5-Jamais vú– deja vú é quando temos aquela impressão de olhar para uma coisa e já a ter visto antes, ou já ter estado numa mesma situação, apesar de racionalmente não ser possível. Estranhamente todo uma configuração do momento parece já ter acontecido. Jamais vú é o oposto. De repente a pessoa olha a sua volta e não reconhece nada nem ninguém. Depois a coisa se normaliza, mas a sensação é apavorante. Você olha para sua mãe e ela não é mais ninguém que você conheça. Sua casa é um lugar de repente absolutamente estranho, você não sabe onde é o banheiro…

  6-Disordem de excitação permanente – Uma mulher no Arizona chega a ter 180 orgasmos por dia. A sensação de prazer sexual é quase que permanente. Mas o que parece uma coisa gostosa é na verdade terrível. Ela tem orgasmos conversando, no supermercado, entre amigos e familiares… Involuntários, violentos… Impedem ela de trabalhar, de fazer uma atividade com concentração.

 7-Síndrome de Tia Evelyn – Existe um mecanismo no cérebro de identificação de rostos. Ele não se lembra de um por um, mas dos ajustes únicos e precisos que precisa fazer para reconhecer cada um deles e associar a um nome em outra região. O cérebro tem a memória de um só rosto genérico que é milimetricamente ajustado para identificar alguém. Pois bem, esse mecanismo pode ficar defeituoso e emperrar num só rosto, não muda mais. Se por acaso foi o rosto de uma tia sua, você terá a impressão permanente que todo mundo que você encontra é a tal tia, por isso esse nome para a doença.

8-Tempo parado – a memória da pessoa para num certo ano. As vezes 30 anos se passaram da última memória guardada e cada vez que a pessoa olha no espelho leva um susto com sua aparência já bem mais velha. O que acontece há trinta segundos atrás é para sempre esquecido. É preciso sempre explicar sobre o problema porque ele esquece que se esquece. A pessoa fica 30 segundos sem ver a mulher e quando ele olha para ela novamente que apenas voltava do banheiro parece que faz anos que não a vê e comemora de novo e de novo e de novo… O hipocampo da pessoa, onde as memórias recentes são guardadas está deteriorado. Nunca mais nada de novo permanecerá.

 9-Amusia – música não faz o menor sentido para a pessoa. É preciso ter um centro no cérebro onde os sons combinados externamente são combinados internamente, coisa que nesse caso não acontece. Para pessoas com amusia, uma sinfonia de Beethoven é o mesmo que alguém batendo panelas aleatoriamente.

 10-Ametaforia– Deixei por último a mais “delicada” e sutil das doenças mentais da lista. A pessoa não consegue entender uma metáfora. Não capta a abrangência dela para uma situação heterogênea, similar em algo menos óbvio, onde se encaixa. Você pergunta o que quer dizer “nem tudo que reluz é ouro” e a pessoa só entende literalmente a frase, dizendo que quer dizer que nem todo metal é feito de ouro etc. É conhecido o caso de um cientista muito inteligente que após um acidente perdeu a capacidade de entender metáforas. Continuou inteligente, mas perdeu essa pequena sutileza tão rica da linguagem humana. Existe um lugar específico no cérebro capaz de extrapolar o sentido literal de certas frases e aplicar em diversos outros casos criativamente.

Podemos observar tons de todas essas doenças, de variadas intensidades, em todas as pessoas desse planeta. Somos todos loucos…

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