A segunda frase mais importante pra mim é: “‘Se fosse impossível uma coisa dar errado, o que você faria?” Pra começar, “dar certo” ou “dar errado” são conceitos por demais absolutos, definitivos e capengas porque nunca sabemos o que aquela ação vai proporcionar. Ela mudará de significado e aparência todos os dias. Não tem fim… Uma ação gera milhares de reações. Geralmente nunca é exatamente o que esperamos e nunca cessará de evoluir, de tornar-se outra coisa. O importante é fazer o que nos entusiasma na hora, sem esperar resultados definidos. Siga a sua felicidade. Existe uma palavra muito bela em inglês sem tradução perfeita no português que é “Serendipity” (a ocorrência e o desenvolvimento de eventos aleatórios de um jeito que nos beneficia, os acidentes fortuitos). Relaxe, nada está sob controle. Um projeto pode levar a outra coisa e a outra e a outra. Viver na ausência de certezas, de não saber no que aquilo vai dar, é uma preciosidade e não uma maldição. Se arriscar é sexy, é quebrar padrões… o risco é o preço de fazer algo que nunca fizemos e é um preço gostoso. Criatividade implica em um salto ao desconhecido. É o louco do Tarot que dança num meio fio à beira de um precipício. Sem essa loucura da criatividade, a recompensa do novo nunca chega. Amargamos um não movimento na vida, um tédio absoluto. Você pergunta ao universo o que ele quer de você, mas ele te pergunta de volta, o que você pode dar de novo para o mundo?
É verdade que nos sentimos muito alienígenas nesse mundo, não nos parece “casa”. Mas, é exatamente por isso que ideias surgem, para torná-lo mais bonito, mais aconchegante. É nesse caos todo, nessa feiúra do dia a dia que as belezas da criatividade humana nascem e brilham mais fortes. Quantas músicas maravilhosas foram criadas para curar uma dor pessoal, quantos projetos saídos da gente podem trazer significado para outras pessoas e pra nós mesmos. Temos inato em nós o poder dos deuses, de gerar vida a nossa volta. O fogo que Prometeu roubou dos deuses e nos trouxe é o de poder criar mundos e criar a si mesmo. A imaginação é o fogo que transmuta tudo a infinitas potencialidades.
Eu nunca me esqueci de uma passagem do livro de John Milton, “Paraíso Perdido” que diz assim: “O lugar da mente é a própria mente, que pode fazer do inferno um paraíso, ou do paraíso um inferno”. Ou seja, habitamos realmente a nossa própria cabeça, não há um só lugar que possamos ir em que não estamos. Por mais que um dia moremos em lugares melhores, com pessoas mais a ver, em situações que julgamos mais agradáveis, a capacidade de usar aquilo que está a nossa volta agora, nesse instante, para criar algo bonito, jamais pode ser negligenciada. O caos a sua volta diz muito sobre sua missão, o que se espera de você. Desperta a “solução”, incita o criar. O criativo junta todos os cacos à sua volta num todo magnífico que justifica e nos faz apreciar a raiz do mais pavoroso dos problemas.
Criar a si mesmo é algo que nunca acaba. Essa coisa de escolher a profissão com 18 anos e passar a vida toda achando que é isso que somos em essência é uma das coisas mais perversas da nossa sociedade, claustrofóbico demais. Estar sempre atento nas mensagens que o universo dá nos propicia um inestimável espelho de autoconhecimento. Mas, mais importante do que perguntar se algo vai dar certo é fazer a coisa com toda alegria e desprendimento, aí já deu certo.
Lembrem sempre que todos nós estamos perdidos, não se iludam com alguns que parecem mais certos do que fazem, os “momentos facebook”, os gurus. A vida é muito maior que todos nós. Só em livro que as pessoas dão uma de “entendi como funciona”, ou pra vender palestra. Nenhuma ação nesse mundo jamais foi tomada com certeza absoluta… os resultados são sempre inesperados. Coragem é agir mesmo com medo… A graça está no não saber.
Não perpetue o que já morreu. Crie e apoie sua criação.
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