Depressão é um clamor por criatividade

Pessoa criativa não tem muito tempo pra sofrer

Texto desconexo que procura não seguir padrões totalmente lógicos e lineares de ação na mente, mas empenha-se em  jorrar frases matematicamente inteligentes que  estremecem nosso apego a porções mortas de nós mesmos em favor de um novo ser, despertando um amor perpétuo à criatividade. Felicidade é sempre decorrência de uma mente criativa. Flua com desprendimento…

As restrições da vida sempre vieram pra mim – seja dinheiro, trabalho ou amor – para que eu encontrasse alguma novidade dentro de mim mesmo, e não fora. Se tudo sempre fluísse como a gente quer – viagens maravilhosas, dinheiro jorrando, festas, amor etc.- nunca faríamos a tarefa de arrumar a casa, olhar para dentro de nós, ir além do mundinho seguro e conhecido. Até doença vem pra isso, é um “fica quieto” do universo e escuta: você tem algo mais nascendo! Muitas vezes a vida nos exige um “reinventar-se”,  nossos costumes antigos não funcionam mais. Descobrir um novíssimo “eu” passa a ser a única coisa que realmente importa. Os problemas trazem dessa maneira seus infindáveis e encantadores presentes. Necessidade é a mãe da invenção. Vazio pede criação. A ignição do Big Bang para o seu novo universo depende de você, da coragem de nascer de novo e não perpetuar algo que não faz mais sentido.

As restrições da vida sempre vieram pra mim – seja dinheiro, trabalho, saúde ou amor – para que eu encontrasse alguma novidade dentro de mim mesmo, e não fora.

Eu amo uma frase e sempre a escrevo bem grande perto de mim, minha filosofia de vida: “Depression is a Cry for Creativity” (Depressão é um Clamor por Criatividade). Nossa capacidade de inventar “moda” é infinita. Um projeto novo é aquilo que nos faz existir, a energia vem do entusiasmo quando achamos um que encaixa na gente. Depressão vem de reprisar as mesmas coisas todo dia. Não ter motivo criativo para ação é morrer em vida, é fazer por fazer, acordar de manhã só por obrigação. Associar tristeza a um modo medíocre de pensar e agir já me salvou incontáveis vezes do improdutivo beco sem saída da autopiedade. Estar triste passou a significar um estado de aridez de ideias. Algo que posso resolver comigo mesmo, internamente.

Cervantes começou a escrever Dom Quixote preso numa cela. Sua vida era tão restrita que teve que imaginar outra coisa para sobreviver, para respirar. Dessa horrível fase surgiu o que ele tinha de mais belo para dar à humanidade. Borges escreveu “Elogio a Escuridão” onde conta como a cegueira o levou a ter uma “visão” única do mundo, essencial à sua arte. Muitos exemplos poderiam ser dados, mas a ideia central é que uma pessoa sem problemas torna-se alguém que não tem motivos para acionar a  criatividade. É fácil notar isso. Artistas já mimados com as recompensas de suas prévias genialidades – de uma época que eram menos abastados – acabam sendo esterilizados. Não criam mais nada de novo e tornam-se caricaturas de si mesmos.  E muitos são os que não sabem o que fazer frente a problemas, não entendem o convite a recriar-se, a abandonar o que está obsoleto. Continuam tentando abrir uma porta nova com uma chave antiga. Quando as ideias surgem para transpor o infortúnio, não possuem a coragem necessária para seguirem suas imaginações, porque erroneamente seguram-se no que é familiar, não percebendo que o “seguro” é o mais arriscado de todas as opções. É repetir fórmulas, o oposto do criativo. É dizer não ao recriar-se.

Se fosse impossível uma coisa dar errado, o que você faria?

A segunda frase mais importante pra mim é: “‘Se fosse impossível uma coisa dar errado, o que você faria?”  Pra começar, “dar certo” ou “dar errado” são conceitos por demais absolutos, definitivos e capengas porque nunca sabemos o que aquela ação vai proporcionar. Ela mudará de significado e aparência todos os dias. Não tem fim… Uma ação gera milhares de reações. Geralmente nunca é exatamente o que esperamos e nunca cessará de evoluir, de tornar-se outra coisa.  O importante é fazer o que nos entusiasma na hora, sem esperar resultados definidos.  Siga a sua felicidade. Existe uma palavra muito bela em inglês sem tradução perfeita no português que é  “Serendipity” (a ocorrência e o desenvolvimento de eventos aleatórios de um jeito que nos beneficia, os acidentes fortuitos).  Relaxe, nada está sob controle. Um projeto pode levar a outra coisa e a outra e a outra. Viver na ausência de certezas, de não saber no que aquilo vai dar, é uma preciosidade e não uma maldição. Se arriscar é sexy, é quebrar padrões… o risco é o preço de fazer algo que nunca fizemos e é um preço gostoso. Criatividade implica em um salto ao desconhecido. É o louco do Tarot que dança num meio fio à beira de um precipício. Sem essa loucura da criatividade, a recompensa do novo nunca chega. Amargamos um não movimento na vida, um tédio absoluto. Você pergunta ao universo o que ele quer de você, mas ele te pergunta de volta, o que você pode dar de novo para o mundo?

É verdade que nos sentimos muito alienígenas nesse mundo, não nos parece “casa”. Mas, é exatamente por isso que ideias surgem, para torná-lo mais bonito, mais aconchegante. É nesse caos todo, nessa feiúra do dia a dia que as belezas da criatividade humana nascem e brilham mais fortes. Quantas músicas maravilhosas foram criadas para curar uma dor pessoal, quantos projetos saídos da gente podem trazer significado para outras pessoas e pra nós mesmos. Temos inato em nós o poder dos deuses, de gerar vida a nossa volta. O fogo que Prometeu roubou dos deuses e nos trouxe é o de poder criar mundos e criar a si mesmo. A imaginação é o fogo que transmuta tudo a infinitas potencialidades.

Eu nunca me esqueci de uma passagem do livro de John Milton, “Paraíso Perdido” que diz assim: “O lugar da mente é a própria mente, que pode fazer do inferno um paraíso, ou do paraíso um inferno”. Ou seja, habitamos realmente a nossa própria cabeça, não há um só lugar que possamos ir em que não estamos. Por mais que um dia moremos em lugares melhores, com pessoas mais a ver, em situações que julgamos mais agradáveis, a capacidade de usar aquilo que está a nossa volta agora, nesse instante, para criar algo bonito, jamais pode ser negligenciada. O caos a sua volta diz muito sobre sua missão, o que se espera de você. Desperta a “solução”, incita o criar. O criativo junta todos os cacos à sua volta num todo magnífico que justifica e nos faz apreciar a raiz do mais pavoroso dos problemas.

Criar a si mesmo é algo que nunca acaba. Essa coisa de escolher a profissão com 18 anos e passar a vida toda achando que é isso que somos em essência é uma das coisas mais perversas da nossa sociedade, claustrofóbico demais. Estar sempre atento nas mensagens que o universo dá nos propicia um inestimável espelho de autoconhecimento.  Mas, mais importante do que perguntar se algo vai dar certo é fazer a coisa com toda alegria e desprendimento, aí já deu certo.

Lembrem sempre que todos nós estamos perdidos, não se iludam com alguns que parecem mais certos do que fazem, os “momentos facebook”, os gurus. A vida é muito maior que todos nós. Só em livro que as pessoas dão uma de “entendi como funciona”, ou pra vender palestra. Nenhuma ação nesse mundo jamais foi tomada com certeza absoluta… os resultados são sempre inesperados. Coragem é agir mesmo com medo… A graça está no não saber.

Não perpetue o que já morreu. Crie e apoie sua criação.