A lendária introdução que o doutor deu ao livro

Dr.Arbo Devalaney – Introdução ao livro Aberrações Genéticas Extraordinárias

Otema “mutações genéticas” tem sido tratado ao longo dos anos por diversos autores e especialistas no assunto. Meu objetivo neste livro é relatar às pessoas os casos mais extraordinários que apareceram em meu consultório nesses mais de quarenta anos de trabalho intenso e diário. Como pesquisador, psicólogo e por que não dizer, amigo, fico numa posição privilegiada para contar as histórias e vidas dessas pessoas que me procuraram na esperança de entender melhor o que são e por que são, e ofereço aos leitores com todo o respeito à confiança depositada em mim por eles, o que se passou entre nós nesse relacionamento e o que se descobriu.

Que se entenda que nada aqui foi criado. Busquei como objetivo primordial separar desde o início a ficção da realidade. Não me interesso por ficção, nem mesmo como diversão. Acho-a vil e desnecessária, visto que sabota a visão humana para a capacidade de notar o assombroso no real, na vida cotidiana. A realidade é sempre mais interessante que a ficção. Ao ouvir os relatos de meus pacientes, procurei observar em quais momentos talvez esses me faltassem com a verdade, sucumbindo a tentações desnecessárias de parecer mais interessante ou mais extraordinário do que o são. Quando percebia o devaneio, tentava trazê-los de volta ao nosso fio condutor, o compromisso com o real, demonstrando que o que eram em essência, ou mesmo em aparência, já era assombroso e extraordinário o suficiente para deixar o mais sedado e letárgico dos leitores atônito.
Portanto, se algum mínimo fato, por descuido ou por contágio involuntário da maldita imaginação estiver contaminado de alguma inverdade, ou algo acrescido ou diminuído desnecessariamente, peço desde já minhas desculpas. Mas reafirmo meu compromisso somente em relatar o que foi visto, documentado e empiricamente constatado.
Sou um cientista, e como tal me valho dos métodos mais seguros e comprovados da ciência para manter a mente eficiente e clara em minha pesquisa. Mas não deixo de ser um ser humano, que anseia, teme, projeta e têm humores e preferências das mais diversas. Por ter esse discernimento, procurei deixar a minha personalidade o mais longe possível do trabalho, ficando assim apenas com o farejo inato em mim para constatar o real.
Portanto, como amante do real e inimigo da ficção, devo confessar que a realidade que me interessa é a extraordinária, ou seja, a não ordinária, a que foge por algum aspecto do trivial, do visto comumente. Não ofereceria às pessoas casos monótonos, características que elas constatam em si mesmas. Que graça teria isso? O extraordinário existe sim. E prescinde da ridícula imaginação humana. Sempre me interessei em estudar indivíduos com capacidades ou características únicas. Isso me estimulava a querer saber mais e amar minha profissão. Devo confessar mais uma vez que nunca me interessei pelas pessoas comuns, que me vinham com aqueles problemas comuns de suas vidas comuns. Seus problemas com namorados, dinheiro, frustrações sexuais etc.  Sempre que alguém assim me procurava, gentilmente indicava um colega meu, alguém com mais capacidade para se interessar pelo não extraordinário. Amo e dediquei minha vida as tais ditas “aberrações”, tão distantes do comumente visto, que ganham esse rótulo de cara, num mero vislumbre. Ofereço essa classe de pessoas a vocês: Aberrante…
Separo em três grupos os meus pacientes: os que nasceram diferentes (congênitos), os que se tornaram diferentes acidentalmente ao longo da vida e os que intencionalmente se tornaram diferentes.
Dedico esse livro, como não poderia deixar de ser, a esses meus cento e trinta pacientes. Pessoas que marcaram minha existência para toda a eternidade. Seres originais e infinitamente interessantes, que me proporcionaram uma vida extraordinária, que me faziam acordar com voracidade para saber mais e me davam essa sensação de viver em uma vida especial, eu, um ser dos mais comuns.
É com respeito e dignidade, lealdade e assombro, reverência e acuidade, que compartilho a partir de agora com vocês, a vida e intimidade dessas aberrações, o extraordinário real….
Dr. Arbo Devalaney

6Z

Sempre detestei descrições desnecessárias, digressões à fatos irrelevantes ao tema central e preâmbulos ornamentais que se entrepõem desnecessariamente entre o leitor e aquilo do que realmente se trata o texto em questão. Talvez para alguns parecerá um tanto abrupto, mas me lanço imediatamente em cada capítulo ao relato conciso, ágil e objetivo de meu paciente e seu caso, sem desnecessidades como: “acordei naquele dia com um pijama listrado” ou “um pintassilgo cantava na alvorada de um dia quando um pensamento me ocorreu…”. Não! Nem ao menos “preparo o terreno”, como aconselharia um nobre escritor na arte de talhar um texto, para que o leitor seja gentilmente introduzido ao tema. Não. Começo já relatando sem rodeios: bruto e voraz! Sou médico e não me interessa nem um pouco que admirem minha escrita. Quero apenas a gramática necessária, eficiente em descrever meus queridos pacientes para que cheguem intactos ao conhecimento de meu leitor. Vamos então a eles ou esse texto tornar-se-á uma imediata incoerência consigo mesmo. Avante!!!